Pouco meses antes de ser condenado pelo então juiz Sérgio Moro, Lula foi aconselhado por amigos a pedir asilo a algum país, alegando ser um perseguido político. Ele negou-se a fazê-lo.
No dia 7 de abril de 2018 quando foi preso para cumprir uma pena de 12 anos e 1 mês de reclusão, Lula disse aos que o ouviram discursar em São Bernardo do Campo antes de se entregar:
Enquanto esteve preso, foi condenado pela segunda vez a 12 anos e 11 meses e seguiu jurando ser inocente. Foi solto depois de 580 dias porque o Supremo Tribunal Federal anulou suas condenações.
Quantas cabeças ao seu redor Bolsonaro não decepou durante seu desgoverno para livrar-se de culpas que poderiam pesar sobre a sua? Nada de estranho, portanto, que proceda assim mais uma vez.
– É crível que as pessoas o abordassem com todo tipo de proposta. E é fato que ele não aderiu a elas.
Perguntado se os Comandantes do Exército e da Aeronáutica mentiram ao dizer que Bolsonaro lhes apresentou uma minuta do golpe, Amador Bueno respondeu:
– Eles conversaram, assim como os ministros, diversas vezes com o presidente, mas nunca foi tratado de algum movimento golpista. […] Teriam discutido sobre a aplicação do Estado de Defesa.
Estado de defesa é uma situação de emergência na qual o Presidente conta com poderes especiais para suspender algumas garantias individuais asseguradas pela Constituição.
O advogado afirmou que Bolsonaro desconhecia os planos golpistas que previam a morte de Lula, do vice, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. E acrescentou:
– O presidente acha uma maluquice esse plano. Jamais participaria de uma coisa desse tipo.
Um dos documentos apreendidos pela Polícia Federal previa a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” que seria comandado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto.
Amador Bueno agarrou-se ao documento para proclamar:
– Quem seria beneficiado seria uma Junta que seria criada após a ação, Operação Punho Verde Amarelo. E nessa Junta não estava incluído o presidente Bolsonaro.
Quis sugerir o quê? Que mortos Lula, Alckmin e Moraes, a Junta não convocaria nova eleição, como estava previsto no documento, para que Bolsonaro a disputasse? Um golpe dentro do golpe?
A notícia mais importante não é o que disse o advogado, mas o que Bolsonaro autorizou que ele dissesse. Porque Amador Bueno não diria uma coisa dessas sem discuti-la previamente com Bolsonaro.
Caso essa seja a linha de defesa de Bolsonaro quando for denunciado pelo Procurador-Geral da República, significa que o ex-presidente culpará os militares pelo golpe que fracassou.
Por que o espanto? Bolsonaro é covarde, sempre foi, e não deixará de ser agora. O que só servirá para que implicados no golpe acabem contando o que ainda não contaram a respeito dele.
Ricardo Noblat