A posse de Luiz Antônio (PSDB) na prefeitura de Bayeux na condição de interino, nesta quinta-feira (7), por causa da prisão preventiva do prefeito Berg Lima (Podemos), revelou uma questão curiosa. Na comemoração, ele foi carregado por um homem apelidado de Careca na cidade. A foto ganhou destaque nas redes sociais não apenas por isso. É que, emparelhando outras fotos de posses, entre Bayeux e Santa Rita, ele está em todas. Há fotos dele carregando também Berg Lima e Netinho de Várzea Nova, da cidade vizinha. Não demorou muito para que surgissem “memes” alertando que “os prefeitos mudam, mas o carregador é sempre o mesmo”. Mas todos se perguntavam quem é essa figura?
O blog foi atrás e descobriu uma figura bem humorada, apesar da vida difícil desde a infância. Ednaldo do Nascimento, ou mesmo Careca, como é conhecido, tem um currículo invejável no ramo de carregador de políticos. Ao longo dos últimos 35 anos, “emprestou” o ombro para suspender mais de 100 autoridades. Se orgulha de contar que, na campanha pelas Diretas Já, entre 1983 e 1984, levou nas costas o ex-presidente Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral; o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, e Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, atual deputado federal (PMDB-PE).
Teve muita liderança paraibana também. Ele conta que tem predileção pelas autoridades em ascensão. Dos políticos do Estado, nas últimas três décadas, transportou Tarcísio de Miranda Burity, Ronaldo Cunha Lima, Egídio Madruga e Humberto Lucena. “Humberto era uma pessoa muito boa”, fala, sem esconder o saudosismo. Dos mais pesados, lembra de três. O mais preso à gravidade da Terra era Pivete, um ex-vereador e ex-vice-prefeito de Bayeux. Depois dele, vem Marcos Odilon, na campanha para deputado estadual, e Ronaldo Cunha Lima, quando foi eleito governador. “Com Ronaldo, eu quase dava um baque nele. Se não fosse um coronel que me segurou, eu tinha caído com ele”, disse.
“Eu sou semianalfabeto, mas sempre gostei de me informar. Vejo quem são as autoridades em ascensão e vou para os eventos. Dos 223 prefeitos da Paraíba, raros são os que não me conhecem”, disse Careca. Nisso, lá pelos idos da década de 1980, enquanto lavava carros na Praça João Pessoa, soube do comício das Diretas Já, que ocorreria no Viaduto Damásio Franca. “Então corri pra lá, pra carregar os políticos”, reforça. Fez isso também na convenção que escolheu o hoje senador Cássio Cunha Lima (PSDB) para a disputa do governo do Estado. “Ele foi o primeiro que reconheceu e me deu um emprego no governo”, acrescentou.
Com 53 anos de idade e 115 quilos distribuídos em 1,72 metro de altura, Careca lembra de um tempo muito difícil da sua vida. Há oito anos sem beber ou consumir drogas, ele recorda que chegou a consumir a impressionante quantia de 185 pedras de crack em um único dia. Nesta época, chegou pesar 49 quilos. “Hoje vivo na graça de Deus. Sou católico e não faço mais isso”, disse. Dos políticos, diz que sempre recebeu a gratidão e um dinheirinho. “Se você é um político e eu te carrego no nas costas, quando eu te encontrar num lugar, sei que vou pedir um dinheiro e você vai me dar uma ajuda”, ressalta. “Eu sou locutor, já fui pedinte e toqueiro”, ressalta, citando, no jargão jornalístico, a prática de quem recebe dinheiro para falar bem dos políticos.
Da atual geração de políticos paraibanos, diz que levou muitos nos braços. “Ricardo Coutinho, Luciano Agra (já falecido), Luciano Cartaxo, Cícero Lucena. Todos eles passaram pelas minhas costas”, conta careca em meio a risos. Ele se orgulha ainda de ter sido candidato a deputado federal, em 2014, quando recebeu minguados 508 votos. “Nunca fui de roubar ou matar ninguém”, acrescenta. Para concluir, a gente pode dizer que os políticos paraibanos podem até mudar, mas o carregador oficial deles continuará na ativa. “Enquanto eu ainda tiver força, estarei nas posses erguendo as autoridades”, disse.
Suetoni Souto Maior