A possibilidade de uma chapa “Alcirina” – Alckmin, Ciro e Marina –, defendida por um manifesto virtual contrário à polarização PT x Bolsonaro, foi bem recebida nesta quarta-feira (3) pelo candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, durante agenda com a Juventude Pedetista, em São Paulo.
Pelo manifesto, Ciro seria a alternativa mais viável a chefiar uma candidatura comum e evitar, com isso, clima de maior animosidade em um eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Ambos aparecem, respectivamente, na liderança e na vice-liderança das últimas pesquisas Ibope e Datafolha de intenção de votos.
Indagado sobre uma chapa “Alcirina”, o pedetista avaliou: “Não gosto de oportunismos; só estou na política porque aposto na inteligência do povo brasileiro. Me honra muito a ideia de que eu possa ser o estuário de todos”, disse.
Por outro lado, o presidenciável declarou não poder “cometer a indelicadeza” de, na condição de adversário de Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa, “pedir a eles que desistam de suas candidaturas”.
“Isso é algo que só eles podem decidir”, disse.
Questionado se aceitaria incorporar pontos dos planos de governo de Marina e Alckmin, ele respondeu: “Ah, sim. Da Marina, quase todos –com exceção da autonomia do Banco Central. Ela mesmo não acredita nisso e aceitou porque tem uma ‘banqueirada’ aí avizinhada a ela”, disse. “No resto, a Marina é uma pessoa que trabalha pelo Brasil, é íntegra, de boa fé, decente, gosta do povo.”
“E do Alckmin [incorporaria] algumas coisas: o IVA [Imposto sobre Valor Agregado] ele copiou de mim, está em um livro meu de 1995”, disse. Ao ser lembrado que o IVA é adotado já na Europa, Ciro justificou: “Peguei o melhor da prática internacional; evidente que não inventei a roda”.
O pedetista foi taxativo ao responder se aceitaria apoio de Marina e Alckmin caso eles o procurassem: “Muito evidente que sim, porque a tarefa agora é proteger a democracia brasileira.”
O comando da campanha de Alckmin refutou o manifesto “Alcirina”. “Manifesto sem autor, sem sentido e sem a menor chance de acontecer. Único acordo possível é com o povo no dia 7 de outubro”, disseram os tucanos, em nota.
Também procurada, a campanha de Marina não se pronunciou sobre o assunto até esta publicação.
“O PT criou o Bolsonaro, e o Bolsonaro criou o PT”
Terceiro colocado nas pesquisas, o pedetista reforçou o discurso dos últimos dias de que representa uma terceira via competitiva, já que Marina despencou nas intenções de voto em comparação com o início da campanha –no Ibope, chegou a pontuar 16%; esta semana, apareceu com 4% –, e Alckmin estagnou abaixo de 10%.
“Estamos criando uma liderança nova para o país, afinal, este é o sentido da minha presença nessa luta: quis criar um campo novo, porque acho que o PT criou o Bolsonaro, e o Bolsonaro criou o PT na proporção [de antipetismo] que estamos vendo hoje”, definiu.
O pedetista cogitou, de forma hipotética, um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. “O que vai acontecer? Bolsonaro vai passar o tempo inteiro chamando Haddad para mostrar as contradições da prisão do Lula, do petróleo, do mensalão, da perda da eleição em São Paulo [em 2016]. Que horas vamos discutir emprego, salário, saúde e a violência que campeia impune pelo país afora?”, indagou.
O manifesto que defende a candidatura “Alcirina” é semelhante à carta publicada dias atrás pelo ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, embora não a cite. Na carta, o tucano pedia que se contivesse “a marcha da insensatez”, por exemplo, por meio da união das candidaturas de centro. Ontem, no entanto, FHC encabeçou manifesto de mais de 90 intelectuais em defesa de Alckmin, presidente nacional de seu partido.
Segundo a mensagem de FHC, que pedia a união do centro contra a polarização PT x Bolsonaro, “qualquer dos polos da radicalização atual que seja vencedor terá enormes dificuldades para obter a coesão nacional suficiente e necessária para adoção das medidas que levem à superação da crise”.