Com mais nomes à esquerda, Lula não reverte votos a apoios em PE, PB e RJ

Nos estados onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas eleitorais, ter o nome ligado a ele tem sido vantajoso. Mas há candidaturas locais que contam com apoio do petista, mas, a uma semana da eleição, ainda não decolaram.

Em pelo menos três estados onde há outros nomes concorrentes de esquerda e também identificados com o ex-presidente, os candidatos escolhidos por ele não têm conseguido uma transferência suficiente de votos.

  • Em Pernambuco, a deputada Marília Arraes (SD-PE) lidera nas pesquisas, com o triplo de intenções de votos do deputado Danilo Cabral (PSB-PE), nome de Lula e do governador Paulo Câmara (PSB).
  • Na Paraíba, o atual governador João Azevêdo (PSB) é favorito à reeleição, com quase o dobro das intenções de voto do senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB), candidato lulista.
  • No Rio de Janeiro, estado de maior desgaste entre PT e PSB, partidos que compõe a chapa presidencial, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) está em segundo na disputa ao Senado, enquanto o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), que já subiu em palanque ao lado de Lula, briga pela quarta posição.

Em comum, os três candidatos são próximos de Lula, o apoiam e pedem votos para o petista, mas foram preteridos para a chapa oficial do ex-presidente —e seus eventos locais — por causa das alianças regionais estabelecidas pelo PT.

Em Ipatinga (MG), na última sexta (23), Lula minimizou os casos de não-transferência e disse esperar que o cenário seja revertido nesta reta final, com seu apoio.

A transferência de voto não é uma coisa automática. Se fosse assim, seria muito fácil, mas não é assim. É um processo de maturação. Estamos entrando na semana em que o povo vai se definindo, esse é o processo.”

Acabou na Justiça. O apoio irrestrito de Lula a Danilo Cabral em Pernambuco foi uma das condicionantes para o PSB fechar a aliança nacional na chapa, com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) como vice.

Fundado no estado pelo ex-governador Miguel Arraes, antigo aliado de Lula e avô de Marília, o PSB governa Pernambuco desde 2007 e é uma prioridade para o partido.

O acordo fez com que o PT desarticulasse os nomes do senador Humberto Costa (PT-PE) e de Marília, então principal liderança jovem do PT no estado. Insatisfeita, ela migrou para o Solidariedade em abril, mas seguiu tentando vincular sua imagem à de Lula.

Tem funcionado. Na ida de Lula a Pernambuco, Cabral e Câmara foram vaiados enquanto o nome de Marília era gritado pela militância —a situação chegou a tal ponto que Lula teve de intervir. Ela foi proibida de subir no palanque, mesmo sendo de um partido que faz parte da aliança nacional. Ainda assim, tem conseguido angariar apoios entre os ex-colegas do PT local.

Com reprovação do governador Câmara em alta, o diretório local do PSB tem tido dificuldades para emplacar o nome do seu candidato à sucessão do governo. Lula tornou-se, então, a principal —se não única— aposta para fazê-lo crescer.

Marília sabe disso e também tenta lembrar a ligação sempre que pode: faz o “L” em eventos, publica fotos com Lula e chegou a ser impedida na Justiça a postar vídeos com o ex-presidente. Lula, por sua vez, participa da propaganda eleitoral de Cabral, em que repete que ele é seu “único candidato”.

Atualmente, Marília lidera as pesquisas com 33% dos votos, enquanto Cabral briga pelo segundo lugar, com 11%, empatado com outros três candidatos.

O candidato de Alckmin. A Paraíba foi um dos primeiros estados em que o MDB local declarou apoio a Lula. Mesmo antes de o partido escolher a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como presidenciável, Veneziano já estava no lançamento da candidatura petista e é um dos principais nomes a liderar a dissidência emedebista em torno do petista.

O estado, no entanto, é governado pelo PSB de Azevêdo, antigo apoiador de Lula e ex-aliado do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), atual candidato ao Senado na chapa de Veneziano.

Assim, a Paraíba tornou-se o único em que a chapa presidencial subiu em palanques separados. Enquanto Lula foi a Campina Grande (PB) sem o candidato a vice para promover Veneziano, Alckmin foi a João Pessoa sem Lula para chancelar Azevêdo.

O governador e seu grupo dizem que gostariam de ter Lula em seu palanque. Azevêdo chegou a encontrar com Lula no Rio Grande do Norte, em junho, para articular um possível entendimento.

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, também tentou alinhar uma aliança, sob o argumento de que não faria sentido descartar uma reeleição —no Espírito Santo, o raciocínio funcionou e o PT passou a apoiar o segundo mandato de Renato Casagrande (PSB).

O grupo de Lula argumenta, no entanto, que a aliança Lula-Veneziano-Coutinho já está fechada desde o fim do ano passado, antes de Azevêdo voltar ao PSB, em fevereiro, e da aliança nacional ser oficializada, em abril.

Azevêdo segue acenando a Lula e usando o nome —e depoimentos— de Alckmin em sua campanha. Com o apoio de Lula, Veneziano também vem crescendo nas pesquisas, mas não consegue tirar votos do governador.

Segundo RealTime Big Data da última segunda (19), Azevêdo lidera com 33%, enquanto Veneziano, com 17%, briga pelo segundo lugar empatado na margem de erro com outros dois candidatos.

Quase rachou. No Rio, a tensão entre a escolha do candidato ao Senado na chapa quase causou uma separação entre PT e PSB. Como Lula bancou o apoio do PT ao deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) para o governo do estado, os petistas puderam, em contrapartida, indicar o nome ao senado e escolheram Ceciliano. Mais à frente nas pesquisas desde o início do ano, Molon decidiu bater o pé e não tirar seu nome.

Cada um conta com com o apoio de três partidos da coligação de Freixo e Lula no Rio.

  • Além do PSB, PSOL e Rede Sustentabilidade endossam a candidatura de Molon.
  • PT, PCdoB e PV defendem o petista.

Sem acordo, o PSB-RJ chancelou o nome de Molon, mas ele corre por fora. Nos comícios que Lula fez no estado, o deputado só subiu ao palco uma vez, na Cinelândia, antes de o petista chegar. Seu nome não é citado pelo ex-presidente, que também tem repetido que Ceciliano é seu único nome ao Senado —na Cinelândia, inclusive, houve troca de farpas entre ambos em suas falas, com vaias e aplausos da militância.

Embora não seja citado pelo ex-presidente, Molon segue declarando voto no petista e tem apoio de grande parte da militância de esquerda carioca, que votará em Lula e Freixo. O peessebista está em segundo, com 11%, de acordo com o Ipec de terça (20), atrás do senador Romário (PL-RJ), enquanto Ceciliano, com 6%, briga pelo quarto lugar com outros dois candidatos.

UOL

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