O promotor Otávio Paulo Neto, em entrevista ao Correio Debate, da 98 FM, na Capital, confirmou que uma ‘Força Tarefa” está à frente da Operação Calvário e de uma ampla investigação que apura a relação entre Governo do Estado, Cruz Vermelha gaúcha e outras ‘Organizações Sociais’.
No âmbito da Operação Calvário, Paulo Neto confirmou que só o contrato com a Cruz Vermelha movimenta uma cifra bilionária e que uma frente formada pelos Ministérios Públicos da Paraíba, Rio de Janeiro e Goiás, além de vários órgãos de fiscalização, como Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT) e Policia Federal estão incorporadas ao trabalho.
Otávio Paulo Neto revelou que as investigações têm levantado informações importantes e ressaltou que não tem como dissociar o trabalho da Cruz Vermelha com os fornecedores e a relação da OS com os agentes públicos vinculados ao Governo do Estado. “Não tem como desvencilhar. Essas Organizações Sociais foram contratadas com a incumbência de gerir hospitais e tratam de recursos públicos. Não tem como dissociar, inclusive uma das pessoas presas é um servidor público. As coisas são convergentes, não tem como dissociar, mas isso vamos decifrar durante a investigação”, explicou o promotor.
Otávio Paulo Neto informou também que as investigações não param e que as provas vão buscar as responsabilizações de quem for responsável, sejam as organizações, os agentes públicos ou o Governo do Estado.
Coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) na Paraíba, Otávio Paulo Neto, ratificou que trata-se de um esforço investigativo que visa investigar uma organização criminosa que seria responsável por desvio de recursos públicos, corrupção, lavagem de dinheiro, peculato através de contratos firmados junto a unidades de saúde do Estado.
Operação
A Operação Calvário investiga uma organização criminosa infiltrada na Cruz Vermelha Brasileira – filial do Rio Grande do Sul, dentre outros organismos não-governamentais, incluindo o órgão central da Cruz Vermelha Brasileira, a filial da CVB no Estado de Sergipe e o Ipcep – Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional. A primeira fase foi desencadeada no dia 14 de dezembro.
Segundo a investigação, operando sob a denominação e o CNPJ destas entidades não-governamentais, a organização criminosa comandada pelo investigado obteve quase R$ 2 bilhões em recursos públicos. Por intermédio desses mecanismos, foram desviados milhões em recursos públicos da saúde, no período entre julho de 2011 até agora, sendo certo que tal estimativa é muito inferior ao valor real do dano causado ao patrimônio público, dado que somente foram computadas as despesas da CVB-RS com uma pequena parcela de fornecedores que prestam serviços em unidades de saúde do Município e do Estado do Rio de Janeiro, notadamente não alcançando os desvios de recursos públicos decorrentes da atuação da organização criminosa no Estado da Paraíba, onde a mesma vem auferindo centenas de milhões de reais, desde o ano de 2011.
Maior esquema de corrupção da Paraíba pode ter financiado campanhas de Ricardo Coutinho e João Azevedo
O maior escândalo de corrupção da história da Paraíba pode ter financiado as campanhas de Ricardo Coutinho e João Azevedo, ambos do PSB, partido que governa o estado desde 2011. Segundo reportagem especial do JPB, o Ministério Público acredita que há indícios que a propina repassada ao governo da Paraíba teria sido utilizada para financiar campanhas eleitorais.
De acordo com as investigações, em agosto de 2018, Leandro Nunes, assessor da Secretaria de Administração da Paraíba, recebeu uma caixa com dinheiro em um hotel no Rio de Janeiro. O dinheiro foi entregue por Michele Cardoso, braço direito de Daniel Gomes da Silva, acusado de comandar a organização criminosa:
Segundo o Ministério Público, horas antes de pegar a caixa, Leandro recebeu uma ligação de Waldson Souza, atual secretário de Planejamento:
Meia hora antes do encontro no hotel, Leandro Nunes recebeu uma outra ligação de um celular pertencente à secretaria de Administração, comandada por Livânia Farias, onde Leandro supostamente trabalhava:
No celular de Michele Cardoso, assessora do chefe do esquema, o MP encontrou mensagens de texto comprovando que a propina era utilizada para campanhas eleitorais na Paraíba:
As conversas de Michele Cardoso, a mulher da caixa com dinheiro, revelava o desespero com a provável derrota de Ricardo Coutinho e, consequentemente, o fim do contrato com a Cruz Vermelha:
A investigação também identificou, em junho de 2018, seis chamadas feitas para o celular de Coriolano Coutinho, o famoso “Cori”, irmão de Ricardo Coutinho. Coriolano já se envolveu em outra denúncia de corrupção quando era Superintendente da Emlur, no caso que ficou conhecido como o escândalo do “gari milionário”, sendo atestado pelo Ministério Público a fraude em licitação e lavagem de dinheiro:
De acordo com o MP, Jaime Gomes da Silva, tio de Daniel Gomes (chefe da quadrilha), doou R$ 300 mil para o comitê estadual do PSB, em 2010. A doação foi realizada 8 meses antes do hospital de Trauma ser terceirizado para a Cruz Vermelha:
O mais curioso é que Jaime Gomes é português e nunca teve relação política com a Paraíba.
OPERAÇÃO CALVÁRIO: Áudio grampeado mostra secretário de Ricardo Coutinho beneficiando empresário em licitação da Saúde
Vazou um áudio grampeado de uma conversa entre Waldson Souza, ex-secretário de Saúde, com um suposto empresário. Na conversa, o braço direito de Ricardo Coutinho passa instruções que favorecem a empresa que vai disputar a licitação. A conversa começa aos 4 minutos e 30 segundos.
Empresário: Ô Waldson, fala aí, será que rola?
Waldson: Rola.
Empresário: Desembaralha?
Waldson: Eu queria o governador aqui. Ele tá em campanha ou viajando
Waldson: Ficou 1 e 600, foi? (milhões)
Empresário: Ficou 1 e 600 e uns quebradinhos
Segundo informações de bastidores, o empresário que aparece no áudio estaria envolvido no esquema de corrupção da Cruz Vermelha.
O grampo também envolve o procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro. No segundo áudio, aos 30 minutos e 30 segundos, Gilberto dá a entender que o juíz Aluízio Bezerra é aliado do PSB, o que compromete a independência do magistrado.
Giberto Carneiro: “Agora deixe eu lhe pedir uma coisa, faça uma visita a Aluízio Bezerra, de uma conversada com ele, tranquilo, porque ele é um defensor nosso. Tem que alimentar ele de informação”.