O Mariana Godoy Entrevista iniciou, nesta sexta-feira (22), uma série de entrevistas com os pré-candidatos à presidência da República. O primeiro convidado da jornalista Mariana Godoy foi o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT). O político falou sobre os problemas do país e disse que tem como objetivo unir o povo brasileiro.
Em sua primeira participação, Ciro Gomes comentou o baixo percentual de intenções de votos que teve nestas primeiras pesquisas com possíveis pré-candidatos à presidência da República. Em um dos cenários propostos pela pesquisa da CNT/MDA, ele surge com 5,3% das intenções de voto, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Marina Silva, mas à frente do tucano Aécio Neves, que ele não deixou de provocar: “Aí é moleza, né?” Ciro prosseguiu: “A pesquisa retrata o momento. Evidentemente que os políticos, os jornalistas querem entender o futuro extrapolando coisas que não são razoáveis, porque a questão de 2018 está apenas começando, o cenário vai ser quente, vai ser um cenário muito complexo, muito delicado. A população começa o processo todo com uma desconfiança grave na própria linguagem da política e não faltam razões para o povo brasileiro, mas é uma pista, uma pista interessante de quem está se posicionando no ‘grid de largada’, para usar assim uma comparação”.
Questionado sobre uma possível composição com o Partido dos Trabalhadores para o pleito, Ciro se mostrou descrente: “Não é provável que eu componha chapa com o PT, menos por mim, mais porque o PT tem a natureza do escorpião, eles votam em si próprio e não parecem sequer aprender com os erros que cometeram recentemente.” Para o pré-candidato do PDT, a característica do PT é de “solidão no processo político-eleitoral, é um cacoete da esquerda velha”.
O jornalista Eric Klein perguntou, com base em declarações de Ciro Gomes, se é impossível acabar com a corrupção no meio político. Ciro deixou claro que acreditar nisso é uma ingenuidade, mas garantiu: “Corrupção é uma inerência da obra humana, todos os homens são frágeis e na política sempre acontecerá. O que você pode prometer é que você não vai aceitar a impunidade como prêmio da corrupção. Eu não posso prometer que não haverá corrupção.” Ciro concluiu que faz esse tipo de promessa ao povo o faz por “despreparo ou por desamor à verdade”. Ele foi enfático ao dizer que é enganador alguém se apresentar como salvador da pátria capaz de acabar com esse problema.
Confrontado com uma de suas características mais marcantes, o ‘pavio curto’, o presidenciável se defendeu: “Por mais estranho que pareça, eu sou um cara muito tranquilo.” Ciro garantiu não ter inimigos pessoais e disse ser um homem do diálogo. Entretanto, ele se mostrou intolerante a alguns adversários: “A Michel Temer, Eduardo Cunha, essa quadrilha de salteadores que tomou conta do país não dá para estender a mão.” Afastado da vida política há uma década, ele observou que se deu o direito de agir como qualquer cidadão, inclusive para falar palavrões, mas garantiu que, ao se colocar na iminência de uma candidatura, sabe que precisará usar uma linguagem mais ‘serena’.
Ainda sobre Michel Temer, o político do PDT se mostrou descrente que a segunda denúncia contra o presidente seja aprovada na Câmara: “A maioria da Câmara, neste momento, é corrupta também. É a tragédia brasileira do momento”.
Ao falar sobre as declarações do general Hamilton Martins Mourão, que sinalizou para a tomada do poder no Brasil pelas Forças Armadas, Ciro citou os processos que recebeu de Temer e Cunha por chamá-los de ladrão e ponderou: “Eu compreendo, talvez, mais que o general, as razões que o levaram a falar isso, mas o general precisa entender que na democracia, e isso é um valor definitivo, ninguém tem autorização, seja de qualquer ‘status’ que seja, muito menos da Constituição, para substituir o povo na decisão do seu destino, por isso o general falou uma bobagem”.
O jornalista Eric Klein confrontou Ciro Gomes com um ‘mantra’ repetido pela população brasileira, que estaria cansada da ‘velha política’. Ciro Gomes observou: “O que distingue é a ideia e o exemplo. A população, que está muito machucada, tem todas as razões, sobram razões à população brasileira para estar indignada com a política e o apelo por uma coisa nova é um apelo totalmente correto ao país. O que não podemos, a pretexto de qualquer tipo de respeito que se tenha ao povo, e o maior de todos é o meu, é aceitar a ideia de que fora da política há alguma solução pra quaisquer que sejam as questões. Não há. Nós procuramos exemplo e novas ideias”.
O pré-candidato do PDT à presidência da República apontou para a importância da experiência na hora de governar o país: “A população brasileira talvez, no debate, vá perceber, basicamente, que parte grave dos problemas que nós estamos vivendo é porque nós demos a presidência da República a inexpertos. A Dilma, sendo uma pessoa muito honrada, uma pessoa respeitabilíssima, por quem eu tenho afeto mais do que respeito, a Dilma não tinha experiência política nenhuma e aí acontece a tragédia que aconteceu. No primeiro ano de quatro, ela não consegue juntar um terço dos deputados, cai no impeachment fajuto e compromete a democracia do país”.
Ciro ainda apontou problemas graves do presidencialismo praticado no Brasil: “O Congresso não tem o menor compromisso com a saúde das finanças públicas, no mesmo dia ele diminui impostos e aumenta despesas, porque ele não tem nenhuma responsabilidade no presidencialismo. Por outro lado, o presidente é o responsável por fazer a saúde funcionar, a educação funcionar e não tem o menor poder para desenhar as leis, então isso é uma lógica de impasse. Como é que se atenua no Brasil? Você tem momentos especiais que mostram isso, para quem tem experiência como eu. Atenua-se, primeiro, se você aproveitar o primeiro momento para fazer as reformas. (…) Segundo é você botar o povo na jogada. Botar o povo na jogada significa trazer o povo para acompanhar a negociação. Terceiro, negociar. Negociar não é errado. Numa democracia representativa, de um país fragmentado, federativo, de milhões de partidos, negociar é um imperativo. (…) E aqui você tem a quarta questão, plebiscitos e referendos”.
Ele fez um alerta. “O próximo presidente da República vai pegar 23 dos 27 estados quebrados. Se você não tiver a oportunidade de negociar com uma política de governadores um novo pacto que redesenhe as finanças do país, um sistema tributário mais moderno, mais justo, um sistema previdenciário que sinalize que nossos filhos não vão pagar uma dívida e que nós vamos deixar uma poupança para os nossos netos, você não terá outra ocasião. Portanto, a crise tem esse lado bom, o país está maduro para quem, sabendo mexer nas cordas corretas, possa propor, em intenção direta com o povo, aquilo que o país precisa”.
Questionado por Mariana Godoy se é favorável à reeleição no Brasil, Ciro Gomes foi objetivo: “Não, acho que a reeleição é uma impertinência no Brasil que foi comprada pelo suborno que o Fernando Henrique fez”.
Ciro Gomes também comentou a polêmica decisão de um juiz do Distrito Federal em favor da ‘cura gay’: “O século XIX está saindo da sepultura no Brasil por todos os ângulos. O século XIX sai da sepultura quando você, por exemplo, determina que o trabalho passe a ser uma ‘commodity’ tipo um quilo de sal, sujeito, a partir do dia 13 agora do mês que vem, à lei da oferta e da procura com 14 milhões de brasileiros desempregados, dez milhões de brasileiros empurrados para o biscate, se virando na rua, correndo do rapa, da repressão, desorganizando o comércio formal, na antevéspera dessa violência bárbara que está matando jovens negros, pobres, nos bairros das cidades e você transforma o trabalho e permite que a mulher trabalhe grávida, trabalhe em condições insalubres. E aí, veja bem, como é que pode um juiz, seja a pretexto do que for, definir qual é a natureza profissional da arte do psicólogo? Como é que pode depois que a Organização Mundial da Saúde fez um amplo e global debate com todos os ‘experts’ e retirou da lista de patologias a homossexualidade, o comportamento homossexual, a decisão, seja lá o que for, não temos que nos meter na vida de ninguém, aí vem um juiz e diz que, em princípio não vale o que decidiu o Conselho [de psicologia] nem a Organização Mundial da Saúde. Esse é o problema do Brasil, porque, sabe, quando a gente golpeia a instituição central, as regras vão todas para a lata do lixo, são todas relativizadas, aí é a babel, é anarquia, porque é um estado de anarquia que estamos vivendo no país”.
Ciro Gomes criticou o decreto de Michel Temer que queria extinguir a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) e apontou que, cinco meses antes, empresas estrangeiras já sabiam que isso ocorreria no país. Ele ainda criticou a relação de ‘proximidade’ entre Brasil e Estados Unidos em alguns campos: “Essa gente que nos governa, sem voto popular, convidou as Forças Armadas Americanas, pela primeira vez na história em tempos de paz, para fazer manobras conjuntas com o exército brasileiro na Amazônia e na fronteira com a Venezuela. E o chanceler do Brasil hoje diz que o Brasil não pode mediar o conflito da Venezuela, que é uma obrigação natural nossa, porque temos lado.” Ciro fez duras críticas o ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes, que estaria, segundo ele, desvirtuando as funções diplomáticas adotadas pelo Brasil: “O governo brasileiro, pelo seu chanceler, um despreparado tosco, enrolado na Lava Jato até o gogó também, dessa velha arcaria do PSDB fisiológico, que financia esse golpe, anunciando que nós temos lado na Venezuela, vê se pode”.
Questionado se enfrentaria Lula no pleito de 2018, Ciro Gomes observou: “Apesar de só depender do PDT, eu não gostaria de ser candidato se o Lula for. Por quê? Porque se o Lula for candidato ele estressa o processo político eleitoral brasileiro de um jeito tal, que os ódios e paixões vão dominar, nós não teremos um minuto para discutir o futuro do país.” Ciro surpreendeu ao dizer que acha que Lula pode, mesmo em condições de disputar as eleições, abrir mão de se candidatar. Questionado se está ao lado dos que amam ou dos que odeiam Lula, Ciro observou: “Eu respeito. Nem amo, nem odeio. O Lula, para mim, é um grande brasileiro, mas nunca foi mito, nunca foi santo, ele não tem a faculdade da infalibilidade papal”.
Ao ser perguntado se Michel Temer tem alguma responsabilidade sobre Geddel Vieira Lima, Ciro Gomes não poupou o presidente: “O Temer é o chefe da quadrilha. A quadrilha é integrada por Geddel, Henrique Eduardo Alves, que está preso, os dois, por Eduardo Cunha, que está preso, o terceiro, por Moreira Franco, que ainda está solto, por Eliseu Padilha, que ainda está solto, e por Michel Temer, que ainda está solto. Essa é a quadrilha do PMDB da Câmara, chefiada por esse aqui [Temer]. No Senado, Renan [Calheiros], [Valdir] Raupp, Eunicio [Oliveira] e Romero Jucá”. Ele prosseguiu: “Romero Jucá foi líder do governo Fernando Henrique no Senado, líder do governo Lula no Senado, líder do governo Dilma no Senado e líder do governo Michel Temer no Senado. Brasileiro, tenha paciência”.
O presidenciável disse quem será, sob seu ponto de vista, sua maior rival nas eleições de 2018: “A ignorância. Meu único rival nessa eleição é a ignorância. E os seus intérpretes. A ignorância tem seus intérpretes”.
Ciro Gomes opinou sobre quem seria o candidato tucano em 2018: “Se o PSDB tiver juízo vem com o Alckmin, porque é uma espécie de direita votável, o outro [João Doria] é um farsante, não dura mais seis meses, não aguenta mais seis meses essa pseudo imagem de novo, de gestor, de não sei o que, de gari, não sei o que tal. Isso tudo, daqui a pouco, a turma na rua vai dizer a ele ’vai trabalhar, vagabundo’. Se fosse no Ceará já tinha começado. Aqui em São Paulo é que a turma é mais tolerante, aceita mais as coisas. Como é que pode o cara se eleger e passar o dia no avião, viajando”?
Ainda sobre João Doria, Ciro detonou a ‘gestão’ da prefeitura de São Paulo: “O único assunto sério que ele resolveu tratar foi a Cracolândia e foi um desastre de planejamento, um factoide ridículo e eles acabaram de varrer para lá e, como ele tem uma grana imensa, vai subornando parte da imprensa e ‘esqueceram’ o assunto. Que gestor é esse, camarada? O que é que esse cara fez pelo país para merecer ser candidato a presidente da República”?
Ciro Gomes respondeu à pergunta que será feita a todos os candidatos. Por que deseja ser presidente do Brasil? “Eu quero unir o povo brasileiro e restaurar a confiança do nosso povo no futuro do país. Eu quero esse lugar na história para mim, para os meus filhos terem orgulho disso e eu me preparei a vida inteira para isso. Meu amor, minha paixão é o Brasil, enfim, eu quero ajudar o Brasil a sair dessa”.
Voltando a um tema recorrente no país, o pré-candidato do PDT observou: “Corrupção não se acaba, corrupção se enfrenta com exemplo e inovação institucional permanente, porque o corrupto não adianta ter leis fixas, é preciso que você, permanentemente, inove e no Brasil você tem muita corrupção legalizada. Por exemplo, ‘swap cambial’, isso é uma palavra linda, todo e qualquer engravatado pode falar em qualquer salão. Roubo, puro e simples, patrocinado pelo governo”.
Ao ser questionado se conseguiria se eleger com esse discurso, sem o apoio dos grandes bancos, Ciro Gomes atestou: “Veja bem, se eles tiverem juízo, quem pode salvá-los sou eu, porque neste momento o Brasil está produzindo uma semente fecunda de uma crise bancária. Por quê? Porque ninguém está pagando ninguém”.
Ciro Gomes descartou a possibilidade de montar uma chapa tendo um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal como vice: “Tenho muito respeito pelo Joaquim Barbosa, acho que ele prestou um bom serviço ao país, mas acredito que a presidência da República num país como o nosso, complexo, deveria ser reservada a pessoas experientes no trato. Por exemplo, o Bolsonaro, por que é que o Bolsonaro, que é um cara que, diz ele que votou em mim, e eu tenho todas as razões para acreditar, fui colega dele, então nada pessoal, mas por que é que o Bolsonaro, que é deputado há 26 anos, não experimentou governar o Rio, que está nesse caos de segurança, nesse caos de corrupção, com o ex-governador condenado a 45 anos de cadeia, e quer como primeira experiência executiva a presidência da República numa hora como essa? Gente querida, o Doria não entrega nada e quer como primeira vivência a presidência da República? Reparem uma coisa, isso é suicídio coletivo”.
O presidenciável refutou qualquer chance de, a exemplo de Lula, tornar-se o ‘Cirinho Paz e Amor’: “Eu sou do diálogo. Agora, eu tenho autoridade, que é uma das coisas que eu acho que precisa ser restaurada no Brasil. A velha esquerda, sofrida pelo autoritarismo, perdeu a noção de autoridade. A velha esquerda, sofrida pela violência policial, transformou na cabeça do nosso povo direitos humanos em proteção de bandido. A velha esquerda, para ser solidária aos sem-terra, aos sem-teto, esculhamba quem paga a conta do país, que são os agricultores, pecuaristas e mineradores do Brasil, o que não quer dizer que ninguém está autorizado a matar índio, a destruir o meio ambiente, nada disso”.