O Supremo Tribunal Federal conseguiu subir mais um degrau na vacilante escada da desmoralização institucional que, de vontade própria, decidiu escalar.
Numa pirotecnia jurídica que visava desmentir a si próprio quando da decisão unânime que finalmente afastou o já imprestável Eduardo Cunha, os eminentes juízes de nossa Suprema Corte resolveram que agora o jogo já é outro.
Segundo o egrégio colegiado, a lei é para todos, desde que nesse todo não esteja a privilegiada classe política cuja submissão e sabujice já nem disfarçam mais.
Pelo mais novo entendimento, os excelentíssimos deputados e senadores já podem acumular as prerrogativas institucionais de criar e aplicar a lei quando a si próprio disserem respeito.
São, agora oficialmente falando, juízes de suas próprias causas.
Como que de encomenda, a decisão por 6 x 5 a favor da decrepitude do poder judiciário cai como uma luva para o recordista em ações penais na Lava Jato, o afastado e noturnamente recolhido senador Aécio Neves.
Ao ter o seu afastamento a ser julgado nos próximos dias, é batata que o mesmo plenário que afastou um Presidente da Câmara dos Deputados, se veja agora na obrigação de devolver a atividade parlamentar que eles mesmos subtraíram a um senador.
São – alguém poderia dizer – as incongruências de um judiciário que ao invés de arbitrar, comunga.
No frigir dos ovos, poucas vezes se viu na história democrática do mundo moderno, um poder afirmar e reafirmar com tanta eloquência a sua covardia, inépcia e despreparo para lidar com os desafios para os quais constitucionalmente foi criado.
No mais, o PT, que logo avexou-se a sair em defesa de Aécio Neves, já pode também solidarizar-se com Eduardo Cunha, afinal, não será sem razão se ele considerar-se vítima de uma histriônica injustiça praticada pela nossa mais alta Corte.
Que dias vivemos.
DCM