Uma camisa de força para Nilvan Ferreira

Vivendo num universo paralelo, bem distante do mundo real, o ex-candidato a prefeito de Joao Pessoa, Nilvan Ferreira, teve a ousadia de dizer que o governo federal está fazendo a sua parte na vacinação, e culpou a prefeitura pela falta do imunizante. Alguém precisa lembrar Nilvan que o presidente dele recusou, em julho de 2020, a oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer. E também recusou mais três ofertas do Instituto Butantan.

Nas palavras de Nilvan, “o governo federal, no ponto da vacina, tem feito a sua parte que é enviar as doses”. Quais doses, cidadão?! O Brasil hoje ocupa a humilhante 50° posição no ranking mundial. É o país que menos vacina, porque lá atrás, um imbecil negacionista recusou a compra de milhões de doses.

Em suas redes sociais, o comunicador acredita que a prefeitura de João Pessoa esteja sabotando a vacinação para prejudicar o presidente, como se Bolsonaro já não fosse capaz de prejudicar a si mesmo diariamente. Afinal, o que ganharia um prefeito de uma capital ao sabotar uma vacina que vai ajudar a vencer uma pandemia que só tem atrapalhado o cotidiano e a economia?

Menos, Nilvan! Daqui a pouco você vai merecer uma camisa de força.

A reportagem O Sabotador, publicada na edição de fevereiro da piauí, revela que o governo de Jair Bolsonaro recebeu três ofertas do Instituto Butantan para comprar a CoronaVac, a vacina produzida em parceira com a farmacêutica chinesa Sinovac. A primeira oferta, feita em 30 de julho, por meio do ofício 160/2020, informava que o instituto tinha condições de fornecer “60 milhões de doses da vacina a partir do último trimestre de 2020”. A correspondência, assinada pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, foi endereçada ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. O Butantan nunca recebeu uma resposta sobre a oferta.

Interessado em colocar sua vacina no plano nacional de vacinação, o instituto voltou a insistir na oferta no dia 18 de agosto. Enviou um segundo ofício, sob o número 177/2020, em que reafirmava a proposta. Prometia fornecer 45 milhões de doses em dezembro e 15 milhões no primeiro trimestre de 2021, ao custo de 21,50 reais a dose. O diretor Dimas Covas terminava a carta colocando-se à disposição para “tomar no devido tempo as providências necessárias para as entregas”. Mais uma vez, ficou sem resposta.

Em 7 de outubro, o Butantan decidiu tentar de novo e enviou outro ofício ao Ministério da Saúde. Era mais enfático que os anteriores. Lembrava as ofertas que não haviam sido respondidas e alertava que era grande a demanda pela CoronaVac no mercado mundial e, também, entre estados e municípios brasileiros. Esclarecia que a vacina estava “em estágio mais avançado para a administração na população e com cronograma de entrega de grandes volumes já a partir de janeiro de 2021”. E fazia uma cobrança: “Sobre esta proposta, solicitamos a manifestação do ministério o mais breve possível.” O próprio Dimas Covas entregou o terceiro ofício em mãos ao general Pazuello, que fez uma expressão contrariada, mas não disse nada. Quase duas semanas depois, finalmente, o Ministério da Saúde mandou uma carta ao Butantan tratando da intenção de comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, mas Bolsonaro logo deu ordens para suspender tudo e, publicamente, garantiu que não compraria nenhuma dose da “vacina chinesa do Doria”.

Em janeiro, no entanto, depois de recusar as três ofertas apresentadas no segundo semestre de 2020, o governo federal ficou com receio de que o governador de São Paulo, João Doria, começasse a vacinar antes do Ministério da Saúde e tentou então fazer com que o Butantan fosse obrigado a lhe entregar todo o seu estoque de CoronaVac. Para evitar a manobra, o governo paulista ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal e conseguiu manter a vacina em São Paulo.

A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.

Comentar com Facebook

Comentários

Opinião

Mais Lidas

Outras Notícias