Vinculado à Polícia Federal (PF), o laudo do Instituto Nacional de Criminalística confirmou o ponto central do diálogo entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS, no qual se debate a realização de pagamentos “todo mês” ao deputado cassado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. Além disso, outras descobertas foram feitas durante a perícia, que constatou não ter havido qualquer adulteração e que as 294 interrupções identificadas se devem às características do aparelho. Confira abaixo os novos trechos.
‘O EDUARDO TAMBÉM, NÉ?’
A transcrição do diálogo mostra que Temer questiona Joesley sobre Eduardo Cunha. Ainda revela que o presidente alertou sobre obstrução à Justiça.
No encontro, Joesley disse a Temer que não podia encontrar com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, próximo a Temer, porque ele passou a ser investigado. Segundo as frases reveladas pelo relatório, Temer alerta que poderia “parecer obstrução de Justiça” e a situação era “perigosíssima”.
Na sequência, Joesley fala que está “de bem com o Eduardo”, que seria, segundo os investigadores, o ex-deputado Eduardo Cunha. Temer responde, então, “tem que manter isso, viu?”, e ouviu Joesley dizer: “todo mês”. A frase havia sido interpretada pelo perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, como “todo meio”. O relatório da PF mostra que o presidente questionou Joesley em seguida: “O Eduardo também, né?” E o empresário confirmou: “Também”.
Joesley: Como é que tá, como é que o senhor tá nessa situação toda aí, Eduardo, num sei o quê, Lava-Jato…
Temer: O Eduardo resolveu me fustigar, né? Você viu que…
Joesley: Eu não sei. Como é que tá essa relação?
Temer: Não, tá… Ele veio (ininteligível)… Tem nada a ver com a defesa (ininteligível). Moro indeferiu vinte e uma perguntas dele que não tinha nada a ver com a defesa dele.
Joesley: Hum, pois é.
Temer: Era pra me entrudar. Eu não fiz nada. E no Supremo Tribunal Federal (ininteligível)
Joesley: Eu queria falar assim, como tá aqui na (ininteligível). Fiz o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha de alguma pendencia daqui pra ali zerou, tal…
Temer: (Ininteligível) tudo.
Joesley: (Ininteligível) Liquidou tudo e ele foi firme em cima, ele já tava la, veio, cobrou, tal, tal, tal, eu, (ininteligível) pronto. Acelerei o passo e…
Temer: É…
Joesley: Tirei da frente. O outro menino, companheiro dele que tá aqui, né?
Temer: (lninteligivel).
Joesley: Que… Que tá aí, que o Geddel sempre tava…
Temer: O Lúcio tá aí?
Joesley: (lninteligível) Não, não (ininteligível)
Temer: (Ininteligivel).
Joesley: Isso, isso …
Temer: (Ininteligivel).
Joesley: Geddel é que andava sempre ali.
Temer: (Ininteligivel)
Joesley: Mas com o Geddel também com esse negócio eu perdi o contato porque ele virou investigado. Agora eu não posso também…
Temer: É complicado, é complicado.
Joesley: Eu não posso encontrar ele.
Temer: É porque (inaudível) parecer obstrução de Justiça, viu?
Joesley: Isso, isso, isso, isso.
Temer: Perigosíssima essa situação.
Joesley: Negócio dos vazamento (sic)…
Joesley: O telefone lá do Eduardo, com Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o quê… Eu tô lá me defendendo. Como é que eu … O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô… Tô de bem com o Eduardo.
Temer: Muito bem.
Joesley: É…
Temer: Tem que manter isso, viu? (ininteligível)
Joesley: (ininteligível) Todo mês…
Temer: O Eduardo também, né?
Joesley: Também.
Temer: É…
Joesley: Eu tô segurando as pontas, tô indo.
Joesley: É.
LOURES COMO INTERMEDIÁRIO
Na transcrição do áudio periciado, o presidente também confirma a Joesley o papel do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, assessor especial do presidente e preso na carceragem da PF, como intermediário entre governo e grupo J&F.
Na conversa, Joesley questiona Temer sobre qual seria a melhor forma de entrar em contato come ele. O empresário pergunta: “É o Rodrigo”?, e Temer confirma.
Num momento da conversa, o presidente diz “pode passar por meio dele, viu?” e acrescenta que Rocha Loures é de sua “estrita confiança”. Após a conversa, o então deputado federal foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil.
Joesley: Pra mim falar contigo qual é a melhor maneira … porque eu vinha falando através do Geddel, através …
Michel Temer: (lninteligível, fala sobreposta).
Joesley: Eu não vou lhe incomodar, evidente, se não for algo assim…
Michel Temer: (lninteligível) as pessoas ficam…
(Descontinuidade 116 em 00: 16: I 0.240).
Michel Temer: Sabe como é que é…
Joesley: Eu sei disso, por isso é que …
Michel Temer: (lninteligível) um pouco.
(Descontinuidade 117 em 00:16:13.939).
Joesley: É o Rodrigo?
Michel Temer: O Rodrigo.
(Ruído tipico de atrito do dispositivo de captação de áudio decorrentes de movimentação).
Joesley: Ah, então ótimo.
(Descontinuidade 118 em 00:16:17.256).
Michel Temer: (lninteligível)
(Descontinuidade 119 em 00:16:18.404).
Michel Temer: (lninteligivel) pode passar por meio dele, viu?
Joesley: (lninteligível).
(Descontinuidade 120 em 00:16:20.634).
Michel Temer: Da minha mais estrita confiança.
Joesley: Tá.
‘BEM DE CORPO!’
Depois de confessar que não conseguiu ficar morando no Palácio da Alvorada, Temer elogiou a forma física do dono da JBS.
— (…) Mas você tá bem de corpo, não é Joesley?
— Tô bem. Deixa eu pegar (ininteligível).
Joesley explica ao curioso presidente que está fazendo reeducação alimentar.
— Emagreci, to bem.
— Você emagreceu — confirma Temer.
— Emagreci.
— Preciso fazer isso — completa o presidente.
— É. Eu … eu to me alimentando bem. Comendo mais saudável. Mas não é comendo pouco não. Tô comendo bastante. Mas, coisa mais saudável.
— Entendi — comenta Temer.
— Menos, menos doce. Menos industrializado — explica Joesley
O presidente pergunta se ele está sendo orientado por nutricionista e Joesley confirma.
Pouco antes de falarem sobre dieta saudável, Temer e Joesley falam sobre a fracassada tentativa do presidente de morar no Alvorada. Temer confessa que lá teve dificuldade de dormir. O mesmo ocorreu com sua esposa Marcela. Para a PF, Temer chega a comentar que teria fantasma lá.
— Eu fiquei uma semana lá, aquilo é um horror — admite Temer.
A transcrição da gravação incluída no relatório final da Polícia Federal no inquérito que investigou o presidente Temer mostra ainda que a entrada de Joesley no Jaburu foi feita sem registro. O empresário relata isso ao presidente que concorda com o método extra-oficial de entrada na residência oficial.
— Eu passei a placa do carro — conta Joesley, referindo-se a ter informado por telefone a identificação de seu veículo para o ex-deputado Rocha Loures.
— Eu sei, sei — diz Temer
— … fui chegando, eles abriram, nem dei meu nome. (…) eles viram a placa do carro, abriram, eu entrei, entrei aqui na garagem.
— É o melhor — comentou Temer.
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